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Jim Morrison por Sam Fuller: "A lucidez é a ferida mais próxima do sol"




No final dos anos 60, Samuel Fuller vivia na Califórnia com a sua mulher, Christa Lang, cerca de 30 anos mais nova. Fuller era já conceituado, tendo assinado obras como The Steel Helmet, Pickup on South Street, House of Bamboo, China Gate, Forty Guns, Shock Corridor e The Naked Kiss, só para citar alguns. Sam conheceu Christa em Paris e, quando foram viver para Los Angeles, a atriz acostumou-se a receções e festas. O casal tornou-se amigo de Jacques Demy e da sua mulher, Agnès Varda, ambos realizadores franceses talentosos. Um dia, Christa visitou Demy e Varda, e deparou-se com Jim Morrison.


Quando o vocalista dos The Doors soube quem era o marido de Christa, ficou entusiasmadíssimo, jurou que era admirador dos filmes de Samuel Fuller e suplicou-lhe que o queria conhecer. “Christa não prometeu nada ao miúdo”, recorda o cineasta. “Ela já assumira um papel que desempenharia durante o resto do nosso casamento, o de guardiã polida, face a admiradores que me faziam perder tempo. Eu nunca ouvira falar deste miúdo, Morrison, nem do seu grupo, The Doors. Não estava nada interessado em conhecer uma estrela do rock, nem mais ninguém, já agora, visto que estava absorvido a escrever o meu guião, Riata.”

Christa, no entanto, convenceu-o de que aquele rapaz era um “artista sério”, e que deviam aceitar o seu convite para jantar num restaurante italiano de Sunset Boulevard. Fuller acedeu. “A noite foi estranha, mas memorável. Morrison, um miúdo carismático, não parava de falar da sua ambição de ser realizador. Jim tinha uns 23, nessa altura, mas já era veterano na indústria da música. As drogas integravam obviamente a sua existência diária”, comenta Samuel Fuller. “E estava tão pedrado nessa noite, sabe Deus com quê, que tentou fazer o pino diante da nossa mesa, no meio de um restaurante à pinha…”



Fuller não tinha paciência para tretas nem para supostos artistas presunçosos. E muito menos para rock stars. Mas viu algo em Morrison. “Gostei daquele jovem maluco e dotado, e pressenti que procurava desesperadamente uma figura paternal. Convidei-o para aparecer no “Shack” [nome que Sam dava à sua casa]. Ele visitou-nos muitas vezes, e eu punha Riata de lado para passar tempo com ele.”

Jim Morrison ficaria famoso pelo seu lado excêntrico e provocador, mas, na presença de Samuel Fuller, não era nada daquilo que imaginaríamos. “Sempre se comportou impecavelmente comigo, dizia-me que queria sair do mundo de loucos da música e enveredar pelo cinema. Era difícil acreditar que os concertos deste miúdo eram selvagens, com Jim a abrir a braguilha, expondo-se, e provocando o público com frases do género, ‘quero matar os vossos pais e foder as vossas mães!’”

“Jim relatou-me como fora crescer no sul dos EUA, falou-me da desaprovação do seu pai, um militar. Eu não conseguia entender de que modo podia ser um exemplo para ele, mas Morrison jurou que eu era. Realizara alguns filmes experimentais e pediu-me que os visse. Combinou uma projeção na UCLA [University of California, Los Angeles], e eu vi-os. Não eram grande coisa, mas transpareciam promessa. Encorajei-o a não desistir.”
Samuel Fuller acabou por se identificar com aquele “miúdo louco” mais do que pudesse supor. “O seu desejo de se reinventar era algo em que me revia. Para continuar a trabalhar no meio artístico, tínhamos de o fazer. Ele aprendia, tal como eu, que a notoriedade é uma espada de dois gumes. Quanto mais famosos nos tornávamos, mais difícil era mantermo-nos criativos.”
DESPERDÍCIOS E CONCLUSÕES

Fuller já ia nos 40 e tal quando se tornou famoso, já fora ardina, copyboy, jornalista, veterano de guerra; publicara romances e realizara vários filmes, hoje considerados clássicos. Como o próprio afirma:

“Eu tinha maturidade para lidar com isso. Aos 20 e poucos, Jim era alvo de enorme reconhecimento internacional. Ninguém, com essa idade, consegue lidar com tanta adulação. Isso transformou-o num ser humano desesperado, em busca de uma saída do castelo autodestrutivo da sua própria reputação.”
Ao aperceber-se disto, Fuller achou que não podia fazer muito mais senão ouvi-lo, quando Jim Morrison o visitava. “Era extremamente lúcido, com rasgos de autêntico brilhantismo, especialmente quando falávamos de cinema ou poesia. Como qualquer pessoa intensamente criativa, possuía um toque de loucura. A droga e o álcool conduziam Jim à sua autoaniquilação.”
Certo dia, Morrison apareceu em casa de Fuller com um livro de poemas, dando-lho de presente. Com grande solenidade, autografou-o: “Para Samuel Fuller. Morrison.” Era The New Creatures. Noutra altura, deu-lhe o manuscrito de um romance intitulado Look Where We Worship, o que Samuel achou “mais um exemplo de escrita tumultuosa e inspirada”.

A confiança entre ambos estabelecia-se, e Fuller fez algo raro, mostrou a Jim o argumento inacabado de Riata, no qual trabalhava. Morrison adorou. Um dia, em casa de Fuller, Jim pegou num exemplar da revista Life, com Mick Jagger na capa. Fuller gracejou que o vocalista dos Rolling Stones seria uma boa escolha para o assassino em Riata, e Christa sugeriu, seriamente, que lho propusesse.

“Morrison aproveitou para se oferecer timidamente para protagonista do filme. Eu disse-lhe logo que ele tinha um rosto demasiado dócil para o papel. Ele ficou destroçado, não como um ator que não conquista um papel, mas como um rapaz repreendido pelo pai. Saiu, com o rabo entre as pernas. Nunca mais o vi.”
Samuel dera-lhe a sua palavra de honra: Mal ele escrevesse o seu primeiro argumento, apoiá-lo-ia, aconselhando-o com cenas e personagens. “Senti-me terrivelmente mal por não conseguir ajudar aquele jovem atormentado que simplesmente tinha demasiados demónios para exorcizar”, lamenta Fuller. Não era hábito do realizador confraternizar com músicos de rock e, muito menos, apoiá-los ou ficar a pensar no assunto.

Jim Morrison faleceu em Paris, em julho de 1971. A mulher de Fuller encontrara-o, poucos dias antes da sua morte, na capital francesa, mais concretamente em La Coupole, em Montparnasse, nesse verão. Christa e a irmã ficaram chocadas ao ver que “o miúdo, outrora bem-parecido, estava agora gordo e distorcido, pálido e com ar doente. O abuso que infligira a si mesmo era terrível de ver, e uma dolorosa tragédia”, relembra Fuller.
O realizador não era estranho às vidas que descarrilaram em Hollywood, mas a morte e o desperdício do talento de Morrison impressionaram-no. Riata, com ou sem Jim, nunca foi completado. Também a sua mulher, Christa, se impressionava com as mortes prematuras no mundo artístico. Fuller e ela própria, amigos de Roman Polanski, tinham sido convidados para uma festa por Sharon Tate, dois dias antes do massacre. “Não fomos, porque Christa tinha outros afazeres, e eu estava a trabalhar afincadamente no meu script. Teríamos acabado como os outros”, declara Fuller, referindo-se ao caso Charles Manson.

Christa perdeu outra das suas amigas, pouco tempo depois, por suicídio, e era algo que começava a preocupá-la. Era também uma época em que trocava cartas com o escritor Henry Miller, e teve a ideia de escrever um livro sobre este assunto, em conjunto com o autor. Ao pesquisar tais matérias, Christa encontrou uma frase do poeta francês René Char, que, por acaso, Miller adorava: “A lucidez é a ferida mais próxima do sol.”


                                                                                                                                      David Furtado


Jim Morrison est «Vivant»

ART CONTEMPORAIN À ART BASEL, UNE ŒUVRE IMPOSANTE CONSACRÉE AU CHANTEUR DES DOORS ET MOULÉE À VÉZELISE



                    «Room 4», de Tom Burr, installation à Art Basel. Une oeuvre à un million d'euros? Photo DR


« Personne ne sortira d’ici vivant ». Phrase mythique, tirée de la chanson « Five to one » (1968), reprise également pour la meilleure biographie consacrée à Jim Morrison (2007). « Vivant », il l’est, pourtant, le leader des Doors retrouvé mort à Paris la nuit du 3 juillet 1971. Vivant à travers son héritage musical et poétique, à travers les succédanés de chanteurs rock qui s’en inspirent, à travers sa tombe au Père-Lachaise, sans doute l’une des plus visitées au monde.

Quarante ans après sa disparition, c’est à travers une œuvre contemporaine que l’une des icônes rock du XX e siècle renaît de ses cendres. L’artiste new-yorkais Tom Burr expose en effet ce week-end à Art Basel, première foire d’art au monde, « Room 4 ». Une « pièce » au sens propre comme au figuré, qui fait référence au numéro de la chambre que le roi lézard occupa deux semaines à l’hôtel de Medicis (désormais Le Petit Paris), peu avant sa mort.

« RAYONNEMENT INTERNATIONAL »

Burr, dont la réputation enfle (avec le soutien de la galerie Bortolami à New York, qui expose notamment Buren) et qui fait partie des 50 artistes majeurs de la section « Unlimited » en Suisse, souligne que l’œuvre » a été conçue comme un mémorial aux mémoriaux ». Si, dit-il, un homme célèbre comme Morrison ne s’y était pas temporairement installé, cette « chambre » serait restée dans l’obscurité. Au même titre que sa stèle funéraire, elle est aujourd’hui encore un lieu de pèlerinage, faisant l’objet de vidéos, d’articles, et de graffitis.

Des murs (de 2,5 m de haut), une fenêtre, la porte de la chambre n°4, une table, une chaise, une armoire, du carrelage pour la salle de bains. Ainsi que des « accessoires » : une poubelle, une bouteille de Jack Daniel’s et son bouchon dont la « position sur le carrelage » a fait débat pour quelques centimètres, lors de l’installation. C’est en fin de semaine dernière que « Room 4 » (« 3 tonnes de métal ») a décollé de la fonderie Huguenin à Vézelise, où elle a été moulée dans le bronze, patinée, pour rejoindre l’expo. « ça nous a pris cinq mois de fabrication », note Joël Huguenin, à la tête de l’établissement depuis 1978, et qui travaille principalement dans le Grand Est et secteur frontalier, « ça nous donne un rayonnement international, avec un artiste qui a une cote énorme ». Pourquoi la galerie Bortolami l’a-t-elle choisi elle, plus portée habituellement vers des créations plus « classiques » ? « Parce qu’on a une grosse capacité de production, notre qualité est reconnue, et qu’on n’est pas très loin de la Suisse ».

Sans compter le travail « déterminant, technique » de tôlerie, de césures que peu de fonderies réalisent en leur sein. Tom Burr est venu « valider » à deux reprises, en mars et en mai, les travaux.

Pas de doute, Jim Morrison – « mort quand j’avais vingt ans », sourit Joël Huguenin, plutôt, lui, fan de Miles Davis – fait encore vibrer la flamme (artistique), suscite toujours le même culte, et fait recette. Un immortel. Ce n’est pas encore la fin, pas encore l’heure de « The end ».

                                                                                                                       Xavier FRERE


« Room 4 », exposée dans le cadre d’« Art Unlimited » à « Art Basel », jusqu’au 17 juin à Bâle.


Everyone said I should write a book - Jonathan White






Between these covers you will vicariously be confronted by pirates at sea, be alone and dying in the Himalaya mountains, come face-to-face with a Ku Klux Klan member on a small island in the middle of Georgia. You'll spend a little time with Jim Morrison and be entertained by Barnacle Bill, the parrot. You will travel to exotic places and meet interesting and diverse people.


                                                                                                                                          Jonathan White



We want the world - Daveth Milton






Inspired by true events, this imaginative recreation of history re-opens Morrison's secret FBI dossier to reveal his Establishment opponents. Moving between Jim’s image, influences and brushes with the law in Phoenix and Miami, Daveth Milton uses meticulous research skills to assess the extent of the conspiracy against the singer. Part meditation, part rock in the dock exposé, We Want The World provides the ultimate account of Jim Morrison's awkward encounter with the Bureau.


                                                                                                                                          Daveth Milton


Reefer movie madness - Shirley Halperin and Steve Bloom






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